Origens da Bíblia

O Antigo Testamento


O Antigo Testamento foi escrito por vários autores ao longo de mais de 1000 anos. Não se sabe exatamente quem escreveu cada parte ou quando, pois não há um consenso entre todos os estudiosos, mas judeus e cristãos acreditam que foi inspirado por Deus. Eram escritos em papiros ou pergaminhos.


Com o tempo, os livros foram sendo reconhecidos por rabinos e escribas, mas sem um nome certo como responsável. Alguns sugerem que Esdras ou algum rei de Israel organizou esses livros, mas não há provas disso.


Existem duas tradições principais sobre esses textos:


1. Bíblia Hebraica/ Canon Massoretico/ Tanakh: Continha 22 livros, que são os mesmos 39 da Bíblia Protestante de hoje. A diferença no número ocorre porque alguns livros foram divididos, como 1 e 2 Samuel. Que foram escritos em hebraico e aramaico oficial. Ela tem:


Torá (Lei): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. 


Nevi'im (Profetas): Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséas, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Zacarias, Malaquias.


Ketuvim (Escritos): Salmos, Provérbios, Jó, Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias, 1 Crônicas, 2 Crônicas.


2. Septuaginta: É uma versão traduzida do hebraico para o grego, usada por muitos judeus fora de Israel. Tinha variações nos livros incluídos. Algumas versões tinham: 1 e 2 Macabeus, Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico (ou Sirácida), Baruc. Outras versões incluíam até 3 e 4 Macabeus. Segundo uma lenda, a Septuaginta foi traduzida por 70 ou 72 sábios judeus em Alexandria — por isso o nome. Mas não há comprovação histórica disso.


Mesmo assim, a Bíblia Hebraica era a versão aceita oficialmente pelos judeus. 


O historiador judeu Flávio Josefo (37–95 d.C.) confirma os livros da Bíblia Hebraica e defende o chamado Cânon Massorético — uma versão preservada por escribas chamados massoretas, que usaram sinais gráficos para manter a pronúncia e o texto correto.


Assim é possível que os primeiros cristãos liam livros da Septuaginta, mas havia debate sobre quais livros eram realmente inspirados. Dessa forma Jesus e os Apóstolos podem ter usado alguma versão da Septuaginta, mas não se sabe ao certo quais livros estavam incluídos nela na época.

Pergaminho do Mar Morto 109, Eclesiastes. Museu da Jordânia, Amã.

Orígenes (184–253 d.C.), um erudito da Igreja de Alexandria, fez uma lista parecida com o cânon hebraico, mas às vezes citava os deuterocanônicos com respeito.


Atanásio de Alexandria (296–373 d.C.), defensor da Trindade, em 367 d.C., fez uma lista com os 27 livros do Novo Testamento. Excluía vários deuterocanônicos do Antigo Testamento, mas recomendava a leitura deles.


Mas o Concílio de Niceia (325 d.C.) não definiu o cânon bíblico. O foco foi nos credos da fé, na natureza de Jesus e na Trindade.


Rufino de Aquileia (345–410 d.C.) separava os livros em canônicos (usados para doutrina) e eclesiásticos (usados na leitura, mas não para doutrina). Colocava os deuterocanônicos na segunda categoria.


São Jerônimo (347–420 d.C.) dizia que os deuterocanônicos podiam ser lidos “para edificação, mas não para doutrina”. Assim ele incluiu esses livros, mas com distinção. 

Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim (chamada Vulgata) a pedido do Papa Dâmaso, em mais ou menos 405 d.C e essa foi a versão oficial da igreja Católica. Ele não considerava os livros da Septuaginta como canônicos, mas os incluía por ordem do Papa, com observações mostrando que não faziam parte da Bíblia Hebraica.

Assim o Cânon do Antigo Testamento foi se formando aos poucos. Os concílios de Hipona (393) e Cartago (397 e 419), mas eles eram regionais e incluíram os deuterocanônicos.


O Códice de Aleppo é um dos manuscritos mais antigos e importantes da Bíblia Hebraica. Ele foi escrito no século X d.C. e segue a tradição massorética da escola de Ben Asher, a mais respeitada no judaísmo. O códice foi guardado por séculos na cidade de Aleppo, na Síria, por uma comunidade judaica. Infelizmente, durante distúrbios em 1947, parte do códice foi danificada e cerca de 40% dele se perdeu, principalmente seções da Torá. O que restou está hoje preservado em Israel, e ainda é usado como referência para a precisão do texto bíblico hebraico.


O Códice de Leningrado é o manuscrito completo mais antigo da Bíblia Hebraica que chegou até nós. Ele foi escrito no ano 1008 d.C. e também segue a tradição de Ben Asher. Apesar de um pouco posterior ao Códice de Aleppo, ele é mais completo. Por isso, o Códice de Leningrado é usado como base para várias edições modernas da Bíblia Hebraica, como a Biblia Hebraica Stuttgartensia (BHS). Está guardado na Biblioteca Nacional da Rússia, em São Petersburgo (antiga Leningrado).


Martinho Lutero e a Reforma Protestante: Na Reforma do século XVI, Martinho Lutero separou alguns livros e os chamou de apócrifos. Já a Igreja Católica os chama de deuterocanônicos (que significa "segundo cânon").


O Concílio de Trento (1546), durante a Reforma, confirmou os livros apócrifos oficialmente como parte da Bíblia Católica.


Assim percebe-se que os primeiros cristãos liam livros da Septuaginta, mas havia debate sobre quais livros eram realmente inspirados.


A confiabilidade dos textos do Antigo Testamento são confirmadas por manuscritos como os Pergaminhos do Mar Morto datados de 4 a.C.


O Novo Testamento


São 27 livros escritos por apóstolos de Jesus ou por pessoas próximas a eles, como discípulos ou membros das primeiras comunidades cristãs. Incluem os evangelhos, as cartas (epístolas), o livro de Atos e o Apocalipse. Estes livros compõem o Novo Testamento aceito pelas Bíblias Católica e Protestante. Eles foram escritos em grego e em aramaico não oficial.


Alguns textos escritos por cristãos nos séculos II e III foram excluídos.

São chamados de apócrifos ou pseudepígrafos. Foram rejeitados por: terem surgido muito depois dos apóstolos, conterem autores falsos ou desconhecidos, ensinarem coisas contrárias à fé. Exemplos:

Evangelho de Tomé, Pedro, Bartolomeu, Nicodemos. Evangelho da Infância de Jesus — com histórias estranhas sobre milagres de Jesus criança. Atos apócrifos — histórias dos apóstolos, como Atos de Pedro e de Paulo. Epístolas — como a Carta de Barnabé e o Pastor de Hermas. Apocalipses — como o de Pedro e de Estêvão.


Esses textos foram rejeitados por ensinos estranhos, autoria duvidosa e por não terem sido aceitos nas primeiras comunidades, apesar alguns terem sido lidos.


O primeiro concílio (regionais) a listar os 27 livros foi o de Hipona (393 d.C.), confirmado pelo de Cartago (397 e 419 d.C.). A decisão teve apoio de Santo Agostinho.

Depois, o Concílio de Trento (1546) (universal ou seja para toda igreja Católica Romana, ele correu para reafirmar os livros do antigo Testamento na contra reforma de Lutero) reafirmou essa lista do Novo Testamento.


Assim, os livros foram escolhidos por: ligação com apóstolos, coerência doutrinária, uso nas primeiras igrejas.


A confiabilidade dos textos do Novo Testamento são confirmadas pois tem muitas cópias antigas e citações preservadas, o que garante grande confiabilidade.


Principais códices antigos da Bíblia Sagrada


Foram manuscritos em pergaminho que são as testemunhas mais antigas e completas das Escrituras cristãs (Antigo e Novo Testamento). Eles foram escritos em grego e datam dos primeiros séculos da era cristã:


1. Codex Sinaiticus 


Data: cerca de 330–360 d.C.
Idioma: Grego
Conteúdo: Antigo Testamento (versão da Septuaginta) e Novo Testamento completo. Mais 2 livros apócrifos (Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas).
Importância: Um dos manuscritos bíblicos mais antigos e completos existentes.
Descoberto: No Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai, no século 19.

Chamada de Codex Sinaiticus, a Bíblia mais antiga e é mantida na Livraria Britânica.

2. Codex Vaticanus


Data: cerca de 300–325 d.C.
Idioma: Grego
Conteúdo: Quase toda a Septuaginta (Antigo Testamento grego). Novo Testamento (com lacunas nos últimos livros: Hebreus 9:14 em diante, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom e Apocalipse estão faltando).
Importância: Considerado o mais confiável por muitos estudiosos por sua fidelidade textual.
Guardado em: Biblioteca do Vaticano desde o século XV.

3. Codex Alexandrinus

Data: cerca de 400–440 d.C.
Idioma: Grego
Conteúdo: Antigo Testamento (quase completo, versão da Septuaginta). Novo Testamento completo. Inclui também alguns livros apócrifos como 1 e 2 Esdras e 3 Macabeus.

Importância: Valioso para comparação textual.
Guardado em: Biblioteca Britânica (Londres)

4. Codex Ephraemi Rescriptus


Data: cerca de 450 d.C.
Idioma: Grego
Conteúdo: Fragmentos do Antigo e Novo Testamento
Curiosidade: É um palimpsesto – o texto bíblico foi raspado para reescrever obras de Efraim, o Sírio, e depois foi restaurado por especialistas.

Importância: Útil para reconstituir partes do Novo Testamento.

Diferença de termos:


Apócrifos: “falsos” ou “suspeitos”.


Deuterocanônicos: livros aceitos depois, em um “segundo momento”.


Massorético: texto preservado por escribas judeus (massoretas). Os massoretas foram estudiosos que criaram sistemas de vocalização e acentuação do hebraico. A tradição massorética foi um trabalho realizado entre os anos 500 e 1000 por estudiosos judeus chamados massoretas, com o objetivo de preservar o texto da Bíblia Hebraica com máxima precisão. Eles criaram um sistema de sinais vocálicos e anotações para indicar a pronúncia correta e garantir a fidelidade do texto original. A escola de Ben Asher, liderada por Aaron ben Asher no século X, em Tiberíades (Galileia), foi a mais respeitada nesse trabalho. Seu texto se tornou o padrão oficial do judaísmo e é seguido pelos principais manuscritos bíblicos.


Papiro: O papiro é um material feito da planta papiro, que crescia no Egito antigo. As tiras do caule eram prensadas e secas para formar folhas onde se podia escrever. Era frágil, quebrava fácil com o tempo e não durava muito em lugares úmidos.


Pergaminho: O pergaminho é feito com pele de animal (como ovelha, cabra ou bezerro) tratada de forma especial, foi inventada na cidade de Pérgamo (atual Turquia). É muito mais resistente que o papiro e foi usado por séculos para escrever documentos importantes, como os manuscritos da Bíblia Hebraica.


Códices: Um códice é o nome que se dá ao "livro antigo" feito com folhas de papiro ou pergaminho costuradas como um caderno. Foi uma grande inovação, pois era mais fácil de manusear do que rolos. Os códices são os antecessores diretos dos livros modernos.


Vulgata: Popular, simples, comum.


Minha opinião: 

Com base na história da formação da Bíblia, não sabemos com certeza quem escreveu cada livro, mas acredita-se que pessoas inspiradas por Deus os registraram. Os livros do Antigo Testamento foram escolhidos, entre outros motivos, por terem sido escritos em hebraico e aramaico antigos, diferentes dos livros apócrifos que surgiram depois, muitos dos quais foram escritos em grego.

Já o Novo Testamento foi escrito quase todo em grego koiné, mas traz influências do aramaico falado por Jesus e pelos apóstolos (um dialeto diferente do aramaico usado no Antigo Testamento). Muitos livros e cartas não foram aceitos no cânon porque tinham autoria duvidosa, ensinamentos diferentes ou foram escritos bem depois dos textos já reconhecidos e usados pelas primeiras comunidades cristãs. Assim, os apócrifos do Novo Testamento são geralmente posteriores aos evangelhos e cartas canônicas.

Com o tempo, esses textos, escritos em pergaminhos ou papiros, foram sendo copiados, depois guardados juntos, depois reunidos em códices, e mais tarde em livros feitos à mão. Com a invenção da imprensa, passaram a ser impressos e traduzidos para várias línguas, e hoje são reproduzidos por impressoras modernas.

Fontes:


https://youtu.be/IHy_VB_ohJE?si=sUktJYybY_IcpdBO


https://youtu.be/TV55mfGgYZU?si=7RDfS7qFidrRoAYo


https://www.gotquestions.org/Portugues/Biblia-canone.html


https://www.todamateria.com.br/concilio-de-niceia/


https://ump.org.br/blog/a-historia-da-biblia-preservacao-divina-que-chega-ate-nos-hoje


https://www.gotquestions.org/Portugues/quem-massoretas.html


https://www.bbc.com/portuguese/geral-42786839


https://www.sbb.org.br/historia-da-biblia-sagrada/os-originais-da-biblia


https://hc-edu.translate.goog/museums/dunham-bible-museum/tour-of-the-museum/past-exhibits/biblical-manuscripts/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc


https://chatgpt.com/


https://youtu.be/bPVcqHUa1_I?si=5XC-RTUeaVyoyZIO


https://youtu.be/NBShf9wjXP8?si=uipf8wlCXSdYidZg


https://en.m.wikipedia.org/wiki/Biblical_Aramaic?utm_source=chatgpt.com


https://www.cambridge.org/core/journals/new-testament-studies/article/abs/contribution-of-qumran-aramaic-to-the-study-of-the-new-testament/87FB4395B999DA94A7732B8672BEB461?utm_source=chatgpt.com


https://revistas.usp.br/vertices/article/download/179301/165918/454872#:~:text=A%20B%C3%ADblia%20Hebraica%20%C3%A9%20conhecida,conhecida%20em%20grego%20como%20Pentateuco.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuscritos_do_Mar_Morto#/media/Ficheiro:Dead_Sea_Scroll_109,_Qohelet_or_Ecclesiastes,_from_Qumran_Cave_4._The_Jordan_Museum,_Amman.jpg


https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/biblia-mais-antiga-do-mundo-estara-em-exposicao-na-inglaterra.html


https://www.jw.org/pt/biblioteca/livros/glossario-da-biblia/C%C3%B3dice-de-Alepo/


https://www.jw.org/pt/biblioteca/livros/glossario-da-biblia/C%C3%B3dice-de-Leningrado/